(1808) BEETHOVEN Sinfonia n. 5

Compositor: Ludwig van Beethoven
Número de catálogo: Opus 67
Data da composição: 1807/1808
Estréia: 22 de dezembro de 1808 — Theater an den Wien, regência do compositor

Duração: 29 a 33 minutos
Efetivo: 2 flautas, 1 piccolo, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 1 contrafagote
2 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, tímpano, cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)

A Quinta de Beethoven é a síntese da Sinfonia Romântica, e dela derivam inspirações para muitas e muitas obras posteriores (ao ponto de algumas a "citarem", literalmente, como as Quintas de Sibelius,  Shostakovich e Mahler). Depois da revolucionária "Eroica", a Terceira, e de uma Quarta que re-pensa a estrutura das Sinfonias Clássicas de Haydn, a Quinta concentra o foco num tema de singela simplicidade — o famoso "tam-tam-tam-taaaam" — e desloca de uma vez por todas o produto final artístico do estético para o experiencial: não se ouve a Quinta com indiferença; o discurso musical exige do ouvinte participação ativa e atenção total.

Estranho saber que ela é composta em concomitância com a Sexta, a "Pastoral", dela tão diferente e tão irmã. Partindo de uma temática quase telegráfica, o já citado "tam-tam-tam-taaam", Beethoven constrói toda uma obra impactante sem recorrer a nada muito diferente desse material. A obra é, antes de tudo, pulso, ritmo. Daí ser tão assimilável, mesmo àqueles que não estão acostumados ao repertório sinfônico. Seu sentido interno nos soa orgânico, natural.

Ainda que estruturalmente ela seja clássica — o primeiro movimento em Allegro, seguido de um movimento lento, depois um Scherzo, e por fim o Allegro final — ela inova ao aglutinar os dois últimos movimentos, os colocando em seqüência sem interrupção, e surpreende ao deixar recair no finale a grande marcha triunfal que, apesar do impacto do início da obra, é o que faz explodir o júbilo nos corações dos ouvintes. Isso, assim, pensado hoje sem muita reflexão, pode nos parecer corriqueiro; mas para a estrutura da Sinfonia foi algo absolutamente revolucionário: as Sinfonias anteriores tinham seu "peso dramático" no primeiro movimento, e o que vinha a seguir (movimento lento, minueto e finale) eram meros desdobramentos. A Quinta não! Ela é, desde o início, um caminhar ao imaginário pico da montanha. Desde a primeira nota, Beethoven está construindo esse percurso heróico, antecipação da trajetória mítica traduzida em música, que somente Mahler poderá compreender, já quase um século depois.

I. Allegro con brio
(Rápido com brio) — cerca de 7 minutos
São três notas curtas, repetidas, e uma longa. Tam-tam-taaaaam. E assim o destino bate à porta... Bate? Não, não bate. Essa bobagem foi perpetuada por Anton Schindler, um puxa-sacos que desfrutava da confiança de Beethoven e que semeou inúmeras lendas a seu respeito, inclusive numa biografia (a primeiríssima a ser publicada após a morte do grande compositor). Mas o efeito desse enunciado é único, e não há quem não o reconheça. E será este o material temático a ser explorado durante toda a obra!

II. Andante con moto
(A passo de caminhada com movimento) — de 8 a 11 minutos
Um tema doce e calmo, mas que traz consigo um poder reflexivo que prova a gênese Romântica dessa obra, já que as Sinfonias Clássicas colocariam aqui uma frase lírica, mas não tentariam puxar o ouvinte em direção às suas inquietações. 
 
III. Allegro — attacca: IV. Allegro
(Rápido — sem interrupção, passa ao movimento seguinte: Rápido) — 14 a 15 minutos
Os dois movimentos são tocados sem interrupção, e formam, na verdade, um finale só. Após uma frase dos violoncelos e contra-baixos, as trompas convidam a este Scherzo denso e altivo. E, esteticamente, temos a inserção de um novo elemento no jogo sinfônico. Para além da harmonia, da busca pela perfeição e beleza, há o "efeito". Um exemplo magistral do uso desse recurso está na transição do terceiro para o quarto movimentos — ambos Allegro — na qual Beethoven cria uma sensação de depressão atmosférica, uma tensão angustiada, uma apreensão, para logo a seguir explodia com força total na fanfarra triunfal que inicia o quarto movimento, uma marcha implacável e devastadora que avança rumo à vitória.

© RAFAEL FONSECA