(1880) TCHAIKOWSKY Concerto para piano n. 2

Compositor: Piotr Ilyich Tchaikowsky
Número de catálogo: Opus 44 / ČW 55
Data da composição: outubro de 1879 a 10 de maio de 1880
Estréia: 12 de novembro de 1881, em New York - Madeline Schiller ao piano, New York Philharmonic com Theodore Thomas na regência

A avaliação que Nikolaj Rubinstein fez do Primeiro Concerto de Tchaikowsky causou um forte desconforto entre os dois, mas o compositor estaria grato e novamente próximo do amigo e mestre graças ao sucesso arrebatador que a execução em Paris, na Exposição Universal, trouxe à obra. Rubinstein se redimira, e Tchaikowsky resolve criar para ele este Segundo Concerto, mas quis o destino que a morte impedisse Rubinstein de tocá-lo.
     
Um Concerto que nunca conseguiu impor-se no repertório. Seria somente culpa do antecessor, o explosivo Primeiro? Isso pode explicar parte da questão, mas não ela inteiramente. O fato é que este Segundo guarda dessemelhanças totais com o Primeiro. E não traz, como se poderia esperar, aquela fúria e avassaladora força. É um Concerto que explora muito o brilhantismo do solista nos movimentos externos, e que no movimento central explora a figura do piano cameristicamente, quase que o colocando na vetusta posição de baixo-contínuo.

O primeiro movimento: uma melodia talvez muito mais russa do que tudo que aparece no Concerto anterior, mas que sem dúvida não emploga da mesma maneira. O início nos remete a Mozart — que, sabemos, era tão caro ao compositor — com certa dualidade entre orquestra e piano no jogo da repetição de frases. É aqui que fica claro, claríssimo, o quanto o solista é solicitado a expor sua técnica com brilho.

No segundo movimento, um fator surpreendente: violino e violoncelo solistas se unem ao trato da melodia principal. Talvez aqui ele estivesse fazendo uma citação a Beethoven e seu Concerto triplo. Mas o desconcertante — e Nikolaj Rubinstein apontou essa deficiência ao conhecer a partitura que jamais tocaria — é que o piano pouco interfere, colocando-se a arpejar como um instrumento meramente complementar. Curiosamente à mesma época, Brahms estaria escrevendo um solo de violoncelo para dialogar com o piano solista no movimento lento de seu Segundo Concerto; talvez ambos estivessem com um olhar voltado à época Barroca, quando nos Concerti Grossi tínhamos multiplos solistas. Ainda que o argumento de que, no caso deste Tchaikowsky, o piano seja roubado de sua posição protagonista, é certo que a página é belíssima.

No terceiro movimento temos a sombra discreta de Mozart convidada a voltar à cena, com uma dança apoiada numa animada e embriagante melodia. Temos Tchaikowsky aqui naquilo que melhor ele sabia fazer, como se ouve em seus balés e marchas irresistíveis: uma sedutora e envolvente musicalidade.

Ainda que se possa — covardemente — comparar esta partitura à do Concerto anterior e declarar a superioridade daquele sobre este, continua, para mim, sendo um mistério a ausência deste belo Concerto no repertório, com tanta obra menos inventiva e mais pobre sendo insistentemente tocada!

© RAFAEL FONSECA