Orquestra Filarmônica de Berlim

Frühere Bilsesche Kapelle  (1882)
Philharmonisches Orchester (1882 a 1887)
Berliner Philharmonisches Orchester (nome oficial)
Berliner Philharmoniker  (nome mais comum)

Fundação: 1 de maio de 1882; primeiro concerto a 5 de maio de 1882
Sede: Philharmonie, Berlim, Alemanha

O conjunto existia desde 1867, liderados por Benjamin Bilse, diretor musical popular da Berlim da época. Mas como Filarmônica ela foi formada em 1882 anos por 54 músicos rebelados que não quiseram renovar contrato com Bilse, que não vinha garantindo boas condições de trabalho ao grupo. Com o nome de Frühere Bilsesche Kapelle, algo como “Antiga orquestra do Maestro Bilse”, eles alugaram um espaço que, depois re-organizado seria a primeira Philharmonie, e deram ares mais sérios à programação, incluindo obras mais consistentes e contemporâneas, ao invés da seleção de peças saltitantes que o antigo regente gostava de programar. Logo eles seriam a Philharmonisches Orchester sob a batuta de Ludwig Brenner, mas para assegurar a continuidade do conjunto tiveram o suporte de um famoso agente de concertos, Hermann Wolff, e se associaram ao Real Conservatório, então dirigido pelo titânico violinista e regente Joseph Joachim.

Em 1887 entra em cena o primeiro grande regente da orquestra, o saxão Hans von Bülow, lendário maestro que deu vida a obras como o Tristão de Wagner ou o Concerto n. 1 de Tchaikowsky. Bülow era conhecido por transformar, em pouco tempo, orquestras provinciais em máquinas de primeira linha, e foi ele quem projetou internacionalmente, pela primeira, vez o nome da orquestra. Com a saída dele em 1892 por motivos de saúde, Wolff tentou os grandes nomes da época sem sucesso, e resolveu apostar num pupilo de Bülow, o jovem Richard Strauss, mas o público berlinense da época não absorveu bem a programação avant-garde.

Em 1895 assume o pódio o húngaro Arthur Nikisch. Embora ele não fosse tão famoso como Bülow, Nikisch conseguia cativar os músicos, que tocavam como ele queria sem questionamentos. Isso deu ao conjunto uma sonoridade coesa e toda especial. A era Nikisch durou 27 anos e fez a fama internacional do conjunto.

Com a morte de Nikisch em 1922, teve início a era mais emblemática da orquestra, agora sob a batuta de Wilhelm Furtwängler. Músico dotado de musicalidade transcendental, Furtwängler tinha uma visão muito pessoal de cada obra interpretada. Calcou o repertório nos 3 Bs — Beethoven, Brahms e Bruckner — e deu também mais espaço à música contemporânea, como Stravinsky, Bartók, Prokofiev e Schoenberg, mesmo sabendo que desagradava parte da platéia. Se do lado artístico esses foram os anos de ouro da Berliner, por outro ela se tornaria a "Orquestra do Reich": em 1935 a firma de Wolff, associada ao conjunto desde o início e dirigida por judeus, foi dissolvida no clima de medo e dúvidas da época. Vendo a orquestra afundar cada vez mais em dívidas, Furtwängler, ciente do fascínio que exercia sobre Hitler, manobrou para que a orquestra fosse um organismo estatal e não dependesse mais somente da renda dos concertos. Quando finalmente teve êxito, percebeu que sua orquestra era a cereja do bolo da propaganda de uma máquina mortífera. Furtwängler foi banido em 1945 e passou pelo doloroso processo da desnazificação até 1947, mas só obteve de volta o status de diretor da Berliner em 1952. Durante esse período, um jovem romeno, polêmico e então desconhecido regeu os concertos da orquestra: Sergiu Celibidache. Em 1954 morria Furtwängler e com ele seu som mítico e insuperável.

Em 1956 estava eleito o sucessor: ao invés de ensaios exaustivos e o horror a discos de Celibidache, os filarmônicos elegeram o regente-síntese dos novos tempos: Herbert von Karajan. Sob a direção do austríaco de Salzburg, a Filarmônica se transformaria em símbolo de qualidade. Karajan soube usar como nenhum outro os suportes para registro de música, e sua obsessão pela perfeição e pela beleza do som criaram uma lenda em torno de seu nome. Nenhum outro regente, com nenhuma outra orquestra, seriam capazes de tocar um Haydn tão equilibrado, um Beethoven tão enfático, um Schumann tão melífluo e um Tchaikowsky tão plangente. A orquestra, habituada a desfrutar de respeitabilidade no meio musical e entre connaisseurs, agora era célebre através de seus LPs (e depois CDs) nas prateleiras da sala da classe média, mundo afora. Homem de prestígio nunca antes alcançado por um músico, Karajan interveio para dar à orquestra uma nova casa — a moderníssima Philharmonie, de 1963 —, criou para a orquestra um Festival de Páscoa — em Salzburg, a partir de 1967 (hoje transferido para Baden-Baden desde 2013) — e encheu os cofres da orquestra e dos músicos com gravações, filmes e excursões. Mas tantos anos de convivência vieram cobrar seu preço no episódio culminante de 1989: Karajan queria integrar a clarinetista Sabine Mayer nas estantes, contra o parecer da comissão de músicos. Magoado, ele entregou o posto em abril de 1989 e morreu 3 meses depois.

Com o italiano Claudio Abbado a orquestra teve o som modificado, dando mais fluência às frases e investindo em texturas mais transparentes — em tudo, oposto a Karajan e seu potente som germânico. Quando ele assumiu, o Muro de Berlim havia acabado de cair e as duas Alemanhas estavam em vias da re-unificação. Abbado cultivou a amizade de seus liderados e deixou para trás a era autocrática com uma frase simbólica: — "Me chamem de Claudio. Sem títulos!". Sua maior contribuição para com o repertório da orquestra foi a inclusão insistente de Mahler, assim como música contemporânea; mas ele também soprou vento novo às interpretações de Beethoven e Mozart, conferindo grande frescor e espontaneidade àquelas obras outrora tocadas com tanta ênfase. Abbado surpreendeu o mundo ao avisar em 1998 de sua saída em 2002 de um cargo do qual regentes só saíram mortos e transformados em lenda. Tratou de um seríssimo câncer no aparelho digestivo e foi re-estruturar o Festival de Lucerna.

A orquestra encontra-se desde então em mãos do inglês Simon Rattle, que assumiu em 2002. Rattle vinha da Sinfônica da Cidade de Birmingham, onde havia feito um trabalho exemplar, transformando uma orquestra de segunda linha em um dos melhores conjuntos ingleses. Sua gestão é marcada pela criatividade — concertos temáticos, a encenação das Paixões de Bach, o repertório super variado, a transmissão via internet — e pela polêmica, já que a crítica nem sempre lhe é tão favorável como era com os antecessores e foi em sua administração que o Festival de Páscoa deixou de ser realizado em Salzburg, por divergências (e dizem, corrupção) da equipe administrativa, passando a realizá-lo na tranqüila Baden-Baden. Rattle gosta de se colocar entre seus músicos como um colega, e é adorado por todos, mas já avisou: seu tempo com a Berliner termina na temporada de 2018.

Em recente eleição, os músicos surpreenderam o mundo e escolheram como sucessor de Rattle o virtuamente desconhecido maestro russo Kirill Petrenko, de 43 anos.
   
© RAFAEL FONSECA