Orquestra da Concertgebouw

Concertgebouworkest
Koninklijk Concertgebouworkest (Orquestra Real da Sala de Concertos)
KCO

Fundação: 3 de novembro de 1888
Sede: Concertgebouw, Amsterdam, Holanda

Inicialmente ela foi apenas a Orquestra do Concertgebouw, nome dado à principal sala de concertos da Holanda em Amsterdam, e que ao pé-da-letra quer dizer "Sala de Concertos". O título de Real só veio em seu centenário, em 1988, dado pela Rainha Beatrix. Só existem duas rivais para a sua sonoridade mais-que-perfeita, as Filarmônicas de Berlim e Viena. E parte de construção dessa lenda deve-se ao número de regentes que ela teve, desde sua fundação até hoje: apenas seis.

Criada alguns anos depois da inauguração de sua casa, para dar-lhe alma, nos primeiros 7 anos, de 1888 a 1895, a orquestra esteve sob a direção do regente holandês Willem Kes, homem de rígida disciplina que exigia da orquestra uma dedicação incomum àqueles dias. Por ser também violinista, Kes teve como solistas convidados nomes como Joseph Joachim e Pablo de Sarasate, o que começou a cultivar o nome da orquestra no exterior.

Quando Kes deixou a orquestra em 1895 para trabalhar na Escócia, o posto foi entregue ao jovem de 24 anos Willem Mengelberg. Sua gestão, que durou 50 anos, moldou o som da orquestra e deu a ela fama internacional. Ele instituiu a tradição — ainda hoje seguida — de se tocar as Paixões de João e Mateus, de Bach, no Domingo de Ramos. O compositor Richard Strauss, reconhecendo seu talento e capacidade, e seu trabalho à frente da orquestra, escreveu para eles o Poema Sinfônico "Vida de Herói", dizendo ter encontrado, pela primeira vez, uma orquestra capaz de tocar passagens difíceis sem deixá-lo constrangido. Sua amizade com Gustav Mahler e a presença constante deste compositor e de sua música em Amsterdam constituíram uma tradição insuperável; foi lá em 1920 que teve lugar o primeiro "Mahler-feest" com todas as suas Sinfonias tocadas num festival.

De 1945 a 1959 o diretor foi Eduard van Beinum, um admirador da música de Bruckner e que incutiu na orquestra um jeito especial de tocar a obra deste compositor, criando uma sonoridade poderosa e densa que a orquestra apresentou neste período. Em 1959, durante um ensaio da Primeira Sinfonia de Brahms, Beinum teve um ataque cardíaco fulminante e morreu no pódio.

Com a morte abrupta do diretor artístico, o segundo-regente Bernard Haitink dividiu as atividades da orquestra com o grande maestro alemão Eugen Jochum; até que em 1963 o posto lhe foi entregue em definitivo. Haitink vai dirigir a Concertgebouworkest até 1988, e será o nome de proa durante a era-de-ouro das gravações, quando a orquestra trabalhou para o selo Philips e passou a apresentar também concertos televisionados, tornando-a mais popular. Grande detalhista, regente equilibrado e cuidadoso, Haitink manteve o padrão de som e a qualidade das execuções.

Em 1988 assume a direção da orquestra o italiano Riccardo Chailly, primeiro não-holandês à frente do conjunto desde sua fundação. Maestro vulcânico, amante da música contemporânea, Chailly trouxe novo oxigênio aos programas da orquestra, além de dar mais espaço à ópera (a orquestra atua também na Ópera da Holanda). Graças a seu trabalho, a orquestra passou a apresentar uma sonoridade cada vez mais instigante.

A consagração se consumou na gestão do maestro letão Mariss Jansons, que assumiu o conjunto em 2004. Foi com a orquestra sob sua batuta que um grupo de críticos a elegeu a melhor do mundo, em 2008, ultrapassando pela primeiríssima vez suas rivais vienense e berlinense nessa lista. Jansons complementou o trabalho de Chailly e conferiu ao grupo uma precisão, um senso camerístico (os músicos tocam como se estivessem numa pequena orquestra de câmara, o que traduz-se num efeito muito especial de integração) que poucas orquestras podem ostentar. Claro que isso tudo é favorecido pela espetacular acústica da Concertgebouw (a sala), a melhor do mundo: ensaiar e tocar ali é um privilégio do qual seus músicos desfrutam em rotina. 

© RAFAEL FONSECA