(1843) WAGNER Abertura da ópera "O Navio Fantasma"

Le Vaisseau fantôme (O Navio fantasma, título provisório enquanto Wagner escrevia o libreto para a Ópera de Paris)
Der fliegende Holländer (O Holandês voador, título original em alemão)

Compositor: Richard Wagner
Número de catálogo: WWV 63
Data da composição: 1839 a 1841, a Abertura revisada em 1860
Estréia: 2 de janeiro de 1843 em Dresden — Wagner regendo

Duração aproximada: 11 minutos
Efetivo: 1 flauta-piccolo, 2 flautas, 2 oboés (um alternando com corne-inglês), 2 clarinetas, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba-baixo, tímpanos, 1 harpa, as cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)

A Abertura de "O Navio Fantasma" é uma das peças sinfônicas mais populares de Wagner e seu poder sugestivo é imenso.

Allegro con brio — Andante — Tempo I  
(Rápido e com brio — A passo de caminhada — Retorno ao tempo inicial)

O tema inicial, trazido poderosamente pelas trompas, é a tradução da inquietação do Holandês, fadado pela maldição divina a vagar pelos mares em busca de um amor imune à traição. Sua tripulação fantasma, responsável por impor-lhe o eterno desassossego, mostra-se através do furacão sonoro que responde logo a seguir. O ambiente se altera com o Andante e a lenta melodia que aparece no corne-inglês e no oboé, a presença de Senta, aquela que poderá salvar o Holandês através da redenção pelo amor. O tema do Holandês retorna (Tempo I), mais forte, tentando se impor às dificuldades. Um terceiro tema será o da Redenção, possibilitada pelo amor de Senta.

Mas há um pouco de auto-biografia nesta Abertura, e Wagner mimetizou o poder das águas com muita eficiência: ela é mais Mar do que propriamente o Holandês. O tema que se pode associar ao Holandês é francamente próprio de um chamado de Marinha; e a resposta da tripulação fantasma pode ser facilmente confundida com uma tempestade no mar, com o choque das águas no convés. A associação é simples: em 1839 Wagner deixava Riga com sua primeira esposa, Minna, fugindo de credores furiosos. Eram tantas as suas dívidas não pagas — esporte que praticou com esmero durante a vida — que as autoridades já tinham lhe confiscado o passaporte. Na calada da noite, atravessaram a fronteira, arriscando-se serem mortos pelos guardas cossacos. Em Baltsik (à época um porto prussiano, Pillau) meteram-se à clandestina num pequeno barco mercante rumo a Londres. Na costa da Noruega, a tempestade colheu o barco jogando-o fortemente contra os imensos fiordes. A tripulação, dona de suas superstições, acreditaram ser o casal intruso o motivo da má sorte; por pouco não foram atirados às águas, como mandava o costume. Foi essa a experiência que Wagner transformou, de maneira sublime, na música de Abertura de sua ópera naval. 

© RAFAEL FONSECA