(1877) BRAHMS Sinfonia n. 2

Compositor: Johannes Brahms
Número de catálogo: Opus 73
Data da composição: 1877
Estréia: 30 de dezembro de 1877 — Viena, Wiener Philharmoniker sob a regência de Hans Richter

Duração: de 40 a 50 minutos
Efetivo: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, tímpanos e cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

Depois de empenhar 15 anos na escrita de sua Primeira Sinfonia — que só veio à luz após a maturidade dos 40, temeroso que estava o compositor da sombra lançada por Beethoven e suas 9 Sinfonias — Brahms levou apenas alguns meses para escrever esta Segunda e menos de um ano após a Primeira ela estreava com sucesso em Viena. A obra é frequentemente comparada à "Pastoral" de Beethoven por sua estética mais lírica e íntima, e de fato Brahms estava bem mais solto e seguro que na contundente Primeira, deixando que esta respire com mais naturalidade.

Tanto na estrutura quanto na orquestração, ela obedece ao padrão da sinfonia clássica, com os tradicionais 4 movimentos e instrumentação sem maiores inovações.

I. Allegro non troppo
(Rápido, mas nem tanto) — cerca de 15 minutos
Após uma frase iniciada pelos violoncelos e contra-baixos, mas logo tomada pelas trompas (que em Brahms sempre tem papel fundamental), o ouvido mais atento se dará conta de que o tema é uma derivação da famosa Canção de ninar, do próprio compositor. E deste tema é extraído, com grande maestria, todas as frases, que se sucedem como ondas, repetições nunca iguais, em uma sucessão de tratamentos diferentes para uma mesma idéia, em uma riquíssima instrumentação — ainda que a orquestra empregada por Brahms seja quase nada maior que a de Beethoven, mesmo passado meio século. É impressionante como Brahms consegue construir todo um movimento sinfônico sem criar tensões explosivas nem recorrer a recursos de grande retórica dramática; por ao contrário, ele faz o ouvinte "passear" pela música, em seu fluxo sereno e grandioso.

II. Adagio non troppo
(Com calma, mas não tanto) — cerca de 10 minutos
Como um coral religioso, abre-se o canto pelas cordas graves, nesse movimento de intensa beleza melódica e contendo o primeiro episódio de pressão estrutural, acumulando-se mais e mais ao longo da exposição das idéias musicais, através de um diálogo que se dá principalmente entre as cordas e os sopros de madeira, até desembocar numa explosão orquestral de continuidade caudalosa, com rico uso do contraponto. Fica evidente o cuidado do compositor em equilibrar a técnica da escrita para grande orquestra com a criatividade que vai-lhe empurrando para esse pequeno clímax, que se não veio naturalmente no primeiro movimento, é soberbamente construído nesse segundo movimento.

III. Allegretto grazioso: Quasi andantino
(Quase rápido e gracioso: quase a passo de caminhada acelerado) — cerca de 6 minutos
Fazendo as vezes do Scherzo beethoveniano, esta dança simples e alegre mais se aproxima de Mozart, ou até mesmo de Haydn. Temos de volta a atmosfera bucólica evocada no primeiro movimento, e se muitos querem ver nesta Segunda de Brahms algum eco da Pastoral de Beethoven, foi nesta passagem que a ponte entre esses dois universos se tornou possível.

IV. Allegro con spirito
(Rápido, espirituosamente) — cerca de 9 minutos
A introdução breve quer fazer crer ao ouvinte que o caráter dócil impera nessa Sinfonia, mas de surpresa uma explosão alegre da orquestra nos joga, nesse movimento de grande complexidade, em agitação. Aqui, finalmente, os contrastes esperados pelo ouvinte Romântico acontecem, mas sem que isso leve à uma descaracterização de uma obra que começou em tão plácidas paisagens. É um movimento de rico colorido, alternância de temperamentos e muita verve. Há mudanças abruptas de rumo, como se toda aquela planície descrita no primeiro movimento fosse agora cavalgada em animal selvagem. A conclusão desse finale me parece uma das melhores engenharias musicais — dramática ou técnica — para terminar uma obra sinfônica, que regozija em júbilo na fanfarra que antecipa o acorde derradeiro.

© RAFAEL FONSECA