(1909) WEBERN Seis peças para orquestra

Sechs Stücke für großes Orchester (Seis peças para grande orquestra)

Compositor: Anton Webern
Número de catálogo: Opus 6
Data da composição: 1909, revisões em 1928 (orquestra reduzida) e 1956
Estréia: 31 de março de 1913 — Musikverein, Viena, regência de Arnold Schoenberg
Estréia: 27 de janeiro de 1929, versão revisada — Berlim, regência de Hermann Scherchen

Duração: cerca de 11 minutos
Efetivo: 2 flautas (a segunda alternando com flauta-piccolo), 2 oboés, 2 clarinetas, 1 clarineta-baixo, 2 fagotes (o segundo alternando com contra-fagote), 4 trompas, 4 trompetes, 4 trombones, 1 tuba, tímpanos, bumbo, caixa clara, pratos, triângulo, tam-tam, sinos, glockenspiel, celesta, 1 harpa, as cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)
— Efetivo da versão de 1928: 2 flautas, 2 oboés, 2 fagotes, 4 trompas, 4 trompetes, 4 trombones, 1 tuba, percussão, celesta, harpa e as cordas

A estréia das Seis Peças de Webern se dá num daqueles escândalos típicos do início do século XX. Aliás, a tarde memorável regida por Schoenberg em Viena ficou conhecida como Skandalkonzert. No turbulento ano de 1913, tudo era motivo de gritaria. A coisa foi mais ou menos assim: semanas antes, a 23 de fevereiro, Schoenberg havia estreado seu Gurre-Lieder na mesmíssima Musikverein, com aplausos e vivas. Mas, ofendido por comentários ouvidos antes do concerto, o autor recusou-se a subir ao palco para agradecer a ovação. Então, o tumulto ocorrido no concerto de 31 de março viria a ser a revanche do público vienense. 

O concerto regido por Schoenberg, além das Seis Peças de Webern, que abriram o programa, teve ainda obras de Zemlinsky, do próprio Schoenberg, de Alban Berg e terminaria com as Canções das Crianças Mortas de Mahler, não fosse o alvoroço, com direito a cenas de pugilato, ter posto fim ao evento. 

Dois meses mais tarde, Stravinsky seria vítima de uma vaia monumental e trocas de tapas e insultos entre os membros da audiência, na première da Sagração da Primavera no Teatro do Champs-Élysées de Paris.

Mas, voltando às Seis Peças, elas constituem a única partitura de Webern para grande orquestra, o que causa certo estranhamento, já que se escolheu um efetivo tão poderoso para executar trechos de curtíssima duração. São 6 movimentos encadeados:

I. Etwas bewegt (Muito animado — cerca de 1 minuto)
II. Bewegt (Animado — cerca de 1 minuto e meio)
III. Zart bewegt (Docemente animado — menos de 1 minuto)
IV. Langsam: Marcia funebre (Lento: Marcha fúnebre — com 4 minutos e cerca de 20 segundos)
V. Sehr langsam (Muito lento — cerca de 2 minutos)
VI. Zart bewegt (Docemente animado — quase 2 minutos)
  
A tentativa do autor de evitar o caudaloso exagero sinfônico — tão em voga com os grandes daquela hora, como Sibelius, Richard Strauss e Mahler — faz com que o tratamento da instrumentação seja sempre transparente e delicado e em nenhum momento a orquestra será exigida na totalidade. A curta duração dos movimentos cria um processo de tensão e distensão que se resolve rapidamente, com sugestões sonoras atingindo um ápice subitamente e desfazendo-se sem aviso. O único movimento mais longo é o quarto, uma Marcha Funebre — a obsessão do autor pela morte da mãe era confessa — onde os timbres impostos pela combinação de metais e percussão criam um clímax assustador. 

O universo de Webern nessa obra é próximo de Debussy, como se este fosse além, mais além, até perder a estrutura das melodias e ter como único recurso o efeito das sonoridades próprias de cada instrumento.

© RAFAEL FONSECA