Prelúdio — Prelúdio e fuga

O esquema de Prelúdio-e-fuga foi eternizado por Bach em uma série de peças para o teclado que ele chamou de "O Cravo bem temperado", onde cada Fuga (uma em cada tonalidade possível) se faz anteceder por um Prelúdio, ou seja, algo como uma "música de preparação" ou de introdução. Assim como muitas óperas tem, ao invés da Abertura, um Prelúdio que antecipa o clima da ação.

A fuga, no caso, é um recurso de composição que consiste numa frase musical que será repetida, mas cada repetição inicia-se depois que a anterior já começou, "em atraso", criando um entrelaçamento de vozes simultâneas. Cada nota coincidente está em contraponto, ou seja: deve combinar com as outras que são tocadas ao mesmo tempo, a fim de promover a dissonância e não quebrar a harmonia; daí a complexidade de se alcançar fugas com 4 ou mais vozes simultâneas. Na ciência da fuga, há um momento em que o compositor precisa alterar uma das frases ecoantes, caso contrário ele estará repetindo-se ao infinito.
     
Mas antes de Bach já se usavam Prelúdios — Præludium ou Præambulum — como introdução à música cantada no serviço religioso protestante, os Prelúdios Corais, que tocados no órgão davam à congregação o tom do trecho a ser cantado. A primeira vez que o termo Prelúdio (na verdade, Preâmbulo, mas com o mesmo sentido) aparece é em 1448 em obra do compositor Adam Ileborgh. Na forma de Prelúdios corais já estavam popularizados na época de Buxtehude, por volta de 1670/80/90 e foi este Prelúdio — o que antecede o coro cantando — que Bach vai primeiro escrever, para depois adotar o uso de prelúdios às suas fugas na compilação já citada "O Cravo bem temperado".
       
Mendelssohn, o Romântico responsável pelo revival da obra de Bach, escreveu alguns conjuntos de Prelúdios e fugas nos mesmos moldes (6 para piano publicados em seu Opus 35, e 3 para órgão publicados em seu Opus 37, ambos em 1837). Também tendo Bach como modelo, Chopin escreverá seus famosíssimos 24 Préludes (porém, sem se preocupar com as fugas) em 1839.
         
Em 1855 Liszt vai escrever um Prelúdio e fuga sobre as letras B-A-C-H (na notação germânica, a partir do A = lá, cada letra corresponde a uma nota). Brahms experimenta a forma em dois Prelúdios e fugas para órgão em 1857, até chegarmos ao ápice da forma no Romantismo com o Prelúdio, Coral e Fuga de César Franck (1884) que inclui o Coral (tocado no piano) como referência histórica e passagem para chegar à fuga (mas que, no resultado, acabou sendo o trecho mais denso da peça).
         
No século XX caberá a Shostakovich a criação de outro conjunto impressionante com 24 prelúdios e fugas em seu Opus 87 de 1951, obra que hoje figura como importante tour de force para os grandes pianistas. 
© RAFAEL FONSECA