(1803) BEETHOVEN Sonata para violino n. 9 "Kreutzer"

Sonata per uno mulaticco lunattico
Sonata per il Pianoforte ed uno violino obligato in uno stile molto concertante come d’un concerto
Kreutzer-Sonate


Compositor: Ludwig van Beethoven
Número de catálogo: Opus 47
Data da composição: 1802/1803; revisão em 1805
Estréia: 24 de maio de 1803, em Viena — com o violinista George Bridgetower e Beethoven no piano

Duração: entre 35 e 45 minutos
Efetivo: violino e piano

Uma das muitas coisas curiosas a respeito dessa Sonata é o nome pelo qual ele é conhecida: Rudolph Kreutzer era um dos melhores violinistas daquele tempo e não era nada simpático à música de Beethoven, não tendo jamais tocado a Sonata que hoje lhe confere fama eterna. Beethooven dedicou-lhe a Sonata num arroubo de mal-humor, por seu talento, mas primeiramente para retirar de cena o primeiro homenageado, o violinista polaco (de origem africana ou indiana, não se sabe bem) George Bridgetower.

Na primeira dedicatória, cheia de gracejos, Beethoven escreveu: "Sonata para um mulato maluquinho". Essa excentricidade toda, que hoje nos escapa da personalidade que idealizamos do grande compositor, era em função da excitação que a amizade entre ele e o exótico violinista provocou. Vamos aos fatos:

O pai de Bridgetower era um serviçal da família Esterházy (os patronos de Haydn) e era, provavelmente, de origem indiana. Mas, se apresentava como um Príncipe africano... A mãe era criada da família Turn und Taxis. O nosso George tornou-se um violinista de enorme talento, e fez muito sucesso em Londres. De passagem por Viena em 1802, conheceu Beethoven, que ficou impressionado com seu virtuosismo e sua personalidade exuberante. Bridgetower voltaria a Viena em 1803, então marcaram uma apresentação juntos, na qual a Sonata estreou. Como Beethoven terminou a partitura na véspera, parte da música Bridgetower teve de ler na partitura do piano, por cima dos ombros de Beethoven. Logo depois, Bridgetower — que, ao que parece, era mulherengo — comentou algo sobre uma moça amiga de Beethoven, que por puritano e sempre desengonçado ante as mulheres, levou aquilo como ofensa suprema. Cortaram relações, e a Sonata foi parar no nome de Kreutzer.

I. Adagio sostenuto — Presto — Adagio 
(Com calma e sustentado — Rapidíssimo — Com calma) — cerca de 15 minutos
Certamente inspirado em Bridgetower, Beethoven abre a Sonata de maneira inusual com uma longa frase no violino, logo respondida pelo piano, exalando algo de erótico, de sensual. Os instrumentos parecem, realmente, falar. É como se estivessem em processo de conquista, um corteja o outro. A introdução lenta, que dura os primeiros 3 minutos, dá lugar ao Presto, no qual violino e piano enfrentam-se de forma vertiginosa, como jamais na história houve. Intercalam-se episódios de certa doçura a momentos de grande intensidade dramática. No dia da estréia, numa passagem que Beethoven havia escrito apenas para o piano, uma escalada triunfal, quando repetida (como pedia a pauta) teve uma improvisação de Bridgetower — que certamente Beethoven incorporou à partitura na revisão de 1805 — levando o compositor asaltar do banco do piano e abraçar calorosamente o amigo e futuro desafeto. É inevitável, aqui, não fazer a alusão à sensualidade e ao descontrole das paixões — e não foi por acaso que o escrito russo Leon Tostoi escreveu um conto intitulado "Sonata Kreutzer" em 1889, no qual é narrado um romance cheio de ciúmes.

II. Andante con variazione 
(A passo de caminhada, com variações) — cerca de 18 minutos
Em absoluto contraste, mas sem perder o poder de retórica, o segundo movimento é bem mais calmo, porém a cada variação da melodia temos a abordagem de um sentimento diferente.

III. Presto  
(Rapidíssimo) — cerca de 10 minutos
Um finale brilhante, semelhante a uma tarantella, cheio de viço e impetuosidade. Piano e violino continuam a conversar cheios de impetuosidade e fúria, mas parecem, aqui, concordar e estarem mais unidos no discurso.

© RAFAEL FONSECA

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