(1873) BRUCKNER Sinfonia n. 3 "Wagner"

Wagner-Sinfonie

Compositor: Anton Bruckner
Número de catálogo: WAB 103
Data da composição: outubro de 1872 a 31 de dezembro de 1873; revisão em 1874 
Data da composição: segunda versão: maio de 1876 a 25 de abril de 1877 
Data da composição: terceira versão: 1887 a março de 1889
Estréias: 16 de dezembro de 1877 (versão II) em Viena, Bruckner regendo a Fil. de Viena 
Estréias: 21 de dezembro de 1890 (versão III) em Viena, Hans Richter regendo a Fil. de Viena 
Estréias: 1 de dezembro de 1946 (versão I) em Dresden, Joseph Keilbert regendo a Fil. de Dresden

Duração: de 55 a 75 minutos
Efetivo: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 tromb0nes, tímpano e as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

Seria extenuante tentar entender as diferenças entre as três versões principais, fora cortes e acréscimos, com Adágios mais curtos, Scherzos mais longos, em meio a inúmeras vacilações de um compositor inseguro diante de sua própria obra. Os editores Leopold Nowak e Robert Haas, respeitados musicólogos e amantes da obra de Bruckner, tentaram impor, cada um aquela que acreditam ser a mais autêntica das versões, mas eles mesmos, com o tempo e novas pesquisas, contribuíram para aumentar o número de possibilidades para 9! Durante todo o século XX a preferência dos regentes recaiu sobre a terceira versão, de 1890; mas hoje em dia a segunda versão, de 1877, a que Bruckner preparou para a primeira estréia, vem sendo mais tocada (até porque muitas das alterações feitas da segunda para a terceira versão são de Franz Schalk, discípulo de Bruckner, e não dele).

Antes, esclareçamos o título: poucos antes de concluir a obra, Bruckner visitou Richard Wagner em Bayreuth, compositor a quem ele dedicava admiração devota — e uma influência enorme em sua sonoridade — e lá lhe mostrou duas partituras, a da Segunda e dessa Terceira Sinfonias. Instado a escolher, após uma rápida olhada nas partituras, Wagner escolheu esta. E Bruckner a dedicou, então, ao "Insuperável Mestre Mundialmente Famoso da Música e da Poesia"; e enxertou, aqui e ali, passagens que os amantes da arte wagneriana certamente irão reconhecer.

A escolha de Wagner não foi ao acaso: a Terceira significa um passo adiante, consideradas as 4 produzidas anteriormente (as Primeira e Segunda e as "Nula" e "de Estudo" que ele rejeitou). É uma obra bem mais concisa e de força magnífica, apesar de suas imperfeições. Embora ela apareça no repertório com alguma frequência hoje, o público da primeira estréia (1877, quando foi tocada a segunda versão) foi deixando a sala às levas a cada pausa; nem mesmo a orquestra mostrou respeito ao compositor que a regeu, abandonando Bruckner no palco após a última nota, perplexo. Dentre os poucos amigos e admiradores que ficaram com ele, estava o jovem Gustav Mahler. Essa catastrófica estréia certamente contribuiu para instalar a insegurança que o faria mexer na obra tantas vezes.

I. Gemäßigt, mehr bewegt, misterioso
(Moderadamente, com animação, misteriosamente) — cerca de 20 minutos
As cordas estabelecem a aura de apreensão e mistério, e os sopros concorrem para aumentar ainda mais a ansiedade, que só é satisfeita com a fanfarra, impositiva e altiva, para logo ser respondida pelos sopros, em dúvida, e as cordas novamente, agora numa caudalosa frase que carrega toda a orquestra junto delas. Um recurso que Bruckner ainda não tinha claro para si, mas que aqui na Terceira começa a ser usado de maneira mais eficiente, é o do acúmulo de partes da frase musical que ele quer impor, através da repetição que no todo resulta no esclarecimento da idéia musical. A Sinfonia "Wagner" começa insegura mas no decorrer desse primeiro movimento ganha certeza de seu discurso e galga, a cada passagem, a afirmação do grande sinfonista que Bruckner amadurecia nesse momento. Ecos de valsas vienenses, de uma Missa do próprio autor (sua religiosidade impregnada desde a infância), entrecortados e comentados por poderosas fanfarras e chamados épicos impressionantes. E, vale lembrar, a estética da orquestração remete à avassaladora música de órgão, sonoridade que estará sempre presente nas Sinfonias dele, e que denunciam seu amor à Basílica de Sankt Florian perto de Linz, onde ele foi criado e onde está sepultado (não por acaso, bem embaixo do órgão).

II. Adagio: Bewegt, quasi Andante
(Com calma: Movimentado, como um se fosse "a Passo de caminhada") — cerca de 15 minutos
O segundo movimento começa com uma melodia comovente, exposta nas cordas, e logo temos comentários reflexivos. Num segundo momento, os wagnerianos hão de reconhecer uma citação à "Valquíria". O movimento transcorre em relativa tranquilidade, embora a pulsação remeta a uma expectativa meio assustada. Os metais participam mais no sentido de ajudar as cordas a encorpar os ápices, sem os cortes abruptos e incisivos do movimento anterior. Um clima épico dominará a parte central do movimento, e tudo se resolve em tranquilidade quase religiosa.

III. Scherzo: Ziemlich schnell
(Divertidamente: Bastante rápido) — cerca de 7 minutos
Um Scherzo que, mais que divertido, mostra-se feroz. Como contra-argumento à breve e vertiginosa escalada inicial, um fragmento de valsa se desenha, para logo ser tragado no turbilhão sonoro. Um segundo episódio será um Ländler, a dança precursora da Valsa na Áustria. Um momento de graciosidade raro em Bruckner! O motivo inicial retorna, levando o ouvinte a perder o fôlego com a apoteótica conclusão.

IV. Finale: Allegro
(Final: Rápido) — cerca de 11 minutos
À moda de Wagner — impossível não lembrar da "Cavalgada das Valquírias" — ele abre o Finale com grande excitação. Para, em seguida, nos encantar com uma Polca, que segundo o próprio "exprime os prazeres e alegrias", em confronto com um motivo nas fanfarras que lembra um coral e que Bruckner quis "também lembrar das dores e tristezas do mundo". Um terceiro episódio reforçará o "Mistério" com o qual a Sinfonia começou. A obra chega ao seu ápice, neste final, talvez dando a impressão de uma colcha de retalhos — o que fica evidente se a versão tocada for a terceira, mas minimizado se o maestro adota a segunda ou a primeira — mas a grandiosidade de Bruckner, seu estilo único, seus contrastes de dinâmica bruscos e agressivos, nos levam ao ápice com imensa força e energia.

© RAFAEL FONSECA

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