(1925) SHOSTAKOVICH Sinfonia n. 1

Compositor: Dmitri Shostakovich
Número de catálogo: Opus 10
Data da composição: 1923 a 1925
Estréia: 12 de maio de 1926, em Leningrado (hoje São Petersburgo) — com regência de Nikolaj Malko

Duração: entre 30 e 35 minutos
Efetivo: 3 flautas (duas alternando com flauta-piccolo), 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 1 trompete-contralto, 3 trombones, 1 tuba, tímpano, bumbo, caixa-clara, gongo, pratos, triângulo, glokenspiel, piano, cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contrabaixos)

Realizada como obra de curso no conservatório, a obra logo extrapolou os limites do ambiente educacional e projetou o nome do jovem Shostakovich, então com 19 anos, mundo afora. Maestros como Toscanini, Bruno Walter e Leopold Stokowski a tocaram e gravaram. 

É surpreendente que a Primeira Sinfonia de um jovem compositor alcance tal resultado, tão seguro e amarrado. Exceto as Primeiras de Mahler (um caso à parte, sempre), Brahms (já senhor de seus 42 anos ao compô-la) e Prokofiev (que, esperto, fez um pastiche do Classicismo, fácil de dominar), foram inúmeras as Primeiras a tornarem-se mera curiosidade no catálogo de compositores que só amadureceriam musicalmente depois: Bruckner renegou duas, tentando apagá-las de seu catálogo, Tchaikowsky só emplaca pra valer na sua Quarta, Dvořák em sua Sétima, Sibelius a partir da Segunda...

I. Allegretto — Allegro non troppo
(Rápido com moderação — Rápido mas não tanto) — cerca de 9 minutos
Totalmente surpreendente, ousado, Shostakovich inicia sua primeira obra sinfônica importante com ares de deboche e um humor único. Petulância esta que é magistralmente construída e finamente orquestrada. Entende-se porque, nos rascunhos, ele a chamou de "Sinfonia Grotesca". A primeira parte do movimento lembra uma marcha circense. O primeiro-violino faz uma transição — de certo suspense — para a segunda parte, quase uma valsa com ares de música de desenho-animado (sem que isso seja um problema, ao contrário: é o charme da obra!).

II. Allegro — Meno mosso — Allegro — Meno mosso
(Rápido — Menos movimentado — Rápido — Menos movimento) — cerca de 5 minutos
Impossível não pensar na Sinfonia "Clássica" de Prokofiev, de 1917, cujo clima é o mesmo. Só que aqui não há concessão ao Clássico: este Scherzo é, na verdade, puro século XX. O piano é introduzido aqui como instrumento de orquestra, e o efeito de sua participação é curioso e divertido.

III. Lento — Largo — Lento
(Lento — Bem lento — Lento) — cerca de 8 minutos
Aqui se percebe que o espírito melancólico de Shostakovich já habitava o jovem de 19 anos. E seu talento para belas linhas melódicas também se mostra, no movimento mais denso e lírico da obra. É, de certa maneira, uma antecipação de seu estilo trágico tardio.

— attacca:
IV. Allegro molto — Lento — Allegro molto — Meno mosso — Allegro molto — Molto meno mosso — Adagio
(sem interrupção: Muito rápido — Lento — Muito rápido — Menos movimentado — Muito rápido — Muito menos movimentado — Com calma) — cerca de 10 minutos
Um rufar da caixa clara interrompe a dissolução luminosa do terceiro movimento para explodir nesse incrível universo de contrastes, no qual muitas atmosferas são exploradas, muitos efeitos em alternadas passagens. É no finale que a Sinfonia assume, pela primeira vez, ares de grandiosidade. Alguns episódios de derramado lirismo são confrontados com episódios irônicos, como momentos de delicado uso da instrumentação se opõe a frases monumentais.

© RAFAEL FONSECA

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