(1946) SHOSTAKOVICH Quarteto de cordas n. 3

Compositor: Dmitri Shostakovich
Número de catálogo: Opus 73
Data da composição: 1946
Estréia: Moscou, 16 de dezembro de 1946 — com o Quarteto de cordas "Beethoven" (Strunnyĭ kvartet imeni Betkhovena)

Duração: cerca de 34 minutos
Efetivo: 2 violinos, viola, violoncelo

Shostakovich tem como inspiração, aqui, os últimos quartetos de Beethoven, que colocam em sequência vários movimentos contrastantes, mas que tocados sem interrupção constituem um fluxo natural e compreensível. Ele determinou 5 movimentos. Para a estréia, após a proibição de sua Nona Sinfonia pelas autoridades soviéticas, ele substituiu os andamentos em italiano por um programa, sugestivos títulos para cada movimento, que evitasse a acusação de formalismo e pudesse dar a impressão aos idiotas oficiais de que esse fosse um Quarteto que traduzia a Guerra. 

I. Allegretto (Rápido com moderação) — cerca de 7 minutos
O indefectível humor do compositor está presente no tema de introdução. O título aqui foi "A calma antes do cataclisma ainda desconhecido".

II. Moderato con moto (Moderado com movimento) — cerca de 6 minutos
Após a leve conclusão do primeiro movimento, temos um tema pesado, alusão a um desconforto, a tristes lembranças. Para a estréia, o título foi "Rumores de agitação, expectativa".

III. Allegro non troppo (Rápido mas não tanto) — cerca de 4 minutos
A violência inicial lembra um trecho da "Sagração da Primavera" de Stravinsky, talvez uma citação proposital. O título é "A força da guerra desenfreada" e a música não deixa dúvidas da opressão, não da guerra que para convencimento o compositor teve de intitular o movimento, mas certamente da tirania à qual ele e outros artistas estavam submetidos pelo regime.

IV. Adagio (Com calma) — cerca de 6 minutos
O título é "Em memória dos mortos" e a música não precisa de muita explicação. Shostakovich entendia como poucos da morte em música, pois criar submetido a uma burocracia é como compor estando morto-vivo.

— attacca: V. Moderato (sem interrupção: Moderadamente) — cerca de 11 minutos
O longo finale é devastador. Intitulado "A eterna questão: Porque e para que?" reflete a angústia e a tristeza do compositor. A guerra lhe era familiar, fora bombeiro voluntário no cerco a São Petersburgo em 1941. Mas a realidade soviética daquele pós-Guerra sugere muito mais uma crítica à própria condição do artista num regime que a esta altura era inclemente com seus intelectuais divergentes que a própria guerra acabada um ano antes.

© RAFAEL FONSECA

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