(1878) CARLOS GOMES Prelúdio Maria Tudor

"Maria Tudor"

Compositor: Antonio Carlos Gomes
Número de catálogo: listada como a 6ª ópera (de 8) do compositor
Data da composição: 1875 a 1878
Estréia: 27 de março de 1879, Teatro Scala, Milão, regência de Eugenio Terziani

Duração: cerca de 7 minutos

Embora hoje pouco seja dito a respeito da importância de Carlos Gomes na Itália daquele momento, é preciso saber que somente Verdi lotava mais o Scala de Milão que o brasileiro, e o compositor a dar continuidade àquela tradição, o italiano — e por isso ainda hoje no repertório — Puccini ainda estava por vir. Nosso bravo compositor levou Maria Tudor à cena depois de 3 enormes sucessos: Il Guarany, de 1870, Fosca de 1873 e Salvator Rosa de 1874. A saga, extraída da peça teatral de Victor Hugo de 1833, da Rainha inglesa traída por seu amante italiano foi impiedosamente vaiada, e o público viu na nacionalidade do vilão uma provocação, adicionada ao fato de que compositores patrícios estavam perdendo espaço para o "indiano selvaggio", como a imprensa passava a tratá-lo. Ao fracasso da obra junta-se à traumática separação de sua esposa Adelina, ventilada com galhardia e escândalo nos jornais milaneses e a uma tragédia pessoal irreparável: morreria no mesmo ano, 1879, seu filho Mario Antonio, com 4 anos de idade. No ano seguinte, 1880, Carlos Gomes voltaria em ruína para o Brasil.

A ópera não merece o esquecimento à qual está submetida hoje. É obra de qualidade. E seu prelúdio é quase um poema sinfônico, pois Carlos Gomes refuta ao expediente fácil — e tão abusivamente utilizado — de montar na abertura uma colcha de retalhos a partir de melodias das árias e coros subsequentes. Ele cria, a partir do tema da vingança da protagonista, revoltada com a traição, a atmosfera certa para colocar a emoção do ouvinte atenta ao drama que se segue. A estrutura é:

Allegro mosso — Largo — Largo cantabile espressivo
(Rápido movimentado — Bem devagar — Bem devagar e expressivamente cantável)

O prelúdio abre em clima de tensão e drama por frases nervosas nas cordas, respondidas pelos demais naipes da orquestra. Em sua melhor "ouverture", sente-se o ódio da Rainha Maria ao saber-se traída, seu desejo de vingança. Pode-se perceber uma certa influência de Wagner na consistência musical, no tratamento da orquestra, mais coesamente sinfônica, no caráter reflexivo sem ceder a recursos espalhafatosos. Uma obra-prima.

© RAFAEL FONSECA

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