(1872) TCHAIKOWSKY Sinfonia n. 2 "Pequena Rússia"

Malorossiyskaya (Малороссийская) = Pequena Rússia
 
Compositor: Piotr Ilyich Tchaikowsky
Número de catálogo: Opus 17 / ČW 22
Data da composição: junho a novembro de 1872, revisada em 1879/1880
Estréia: 7 de fevereiro de 1873 (1ª versão) em Moscou, regência de Nikolaj Rubinstein; 12 de fevereiro de 1881 (2ª versão) em São Petersburg, regência de Karl Zike

Escrita em Kamenka, uma pequena aldeia na Ucrânia, território que era conhecido como a “Pequena Rússia” — daí o título da obra — onde Tchaikowsky passava uma temporada em casa de primos. Nesta época, o compositor havia despertado um enorme interesse pela música folclórica ucraniana, o que conferiu a esta obras um sabor russo que a coloca como a mais povoada de referências folclóricas dentre as suas 7 Sinfonias (as 6 numeradas, mais “Manfredo”).

É certo que o compositor almejava a aceitação do chamado Grupo dos Cinco, formado pelos compositores Balakirev, César Cui, Borodin, Mussorgsky e Rimsky-Korsakov. Eles defendiam que russos deveriam produzir música russa, de raiz russa e caráter russo. E Tchaikowsky era, na visão deles, um músico ocidentalizado, destituído de nacionalismo.

A Sinfonia, em sua forma, deve muito a Beethoven em sua “Eroica”. O primeiro movimento assume os ares de uma Dumka, canção folclórica ucraniana de caráter melancólico e sonhador, que vai se agitando cada vez mais durante o desenvolvimento.

O segundo movimento, uma marcha (como na “Eroica”, só que aqui animada) cuja melodia central lenta remete a um cantochão russo. Tchaikowsky demonstra grande sabedoria na instrumentação, criando um rico colorido orquestral.

O terceiro movimento, um Scherzo, é onde se nota a maior similaridade com a obra beethoveniana. Mas Tchaikowsky acrescenta seu material mais legítimo: o caráter sonhador e romântico.

O quarto e último movimento é o grande júbilo, onde mais se percebe o caráter “nacional” dessa obra. Lançando mão das variações — mais uma vez, como na “Eroica” de Beethoven — ele cria em cima de um tema muito conhecido entre os ucranianos, oriundo de uma famosa canção popular. Seu uso da percussão e dos metais aqui, além do vertiginoso desenvolvimento do tema principal, já antevê o grandioso finale da Quarta Sinfonia. Existem cortes e mudanças abruptas que colocam este movimento num patamar de inovação extraordinariamente ousado, vindo de um compositor que era acusado de tradicionalismo por seus pares.

Quanto à questão da alma russa de Tchaikowsky, foi preciso o passar dos anos e, já no século XX, o sábio Stravisnsky declarar: — “Ele foi o mais russo de todos nós!”.

© RAFAEL FONSECA