(1939) SHOSTAKOVICH Sinfonia n. 6

Compositor: Dmitri Shostakovich
Número de catálogo: Opus 54
Data da composição: 1939
Estréia: 5 de novembro de 1939 - Leningrado (hoje São Petersburgo) - Filarmônica de Leningrado, regência de Yevgeny Mravinsky

Uma Sinfonia estranha, que a princípio parece desequilibrada: 3 movimentos, sendo o primeiro um longo movimento lento de quase 20 minutos, seguido de 2 Scherzos quase circenses e muito curtos que juntos somam pouco mais que 10 minutos. Esse esquema Largo - Allegro - Presto sugere a falta de um primeiro movimento, e a crítica da época aproveitou para chamá-la "Sinfonia sem cabeça". Mas é preciso avançar no tempo, conhecer a postura do autor diante do regime ao qual era obrigado a agradar, para compreender essa obra.

Shostakovich declarou, anos depois: — "É provável que muitos acreditem que eu renasci depois de minha Quinta [Sinfonia]. Não, só comecei a viver de novo depois da Sétima". A Quinta, Sinfonia anterior a esta, foi a reconciliação forjada entre o compositor e o Regime Soviético, depois dele ter sido acusado de decadência ocidental devido ao desagrado de Stálin com a ópera "Lady Macbeth do Distrito de Mtsensky". Esta Sexta simboliza uma vez mais este herói que finge a própria alegria, para não apodrecer nas mãos da patrulha ideológica.

A razão da forma desta Sinfonia ser tão disparatada remete ao momento terrível pelo qual passava Shostakovich, que escreveu, sobre este tempo: — "Nesse periodo estive perto do suicídio. O perigo me aterrorizava e eu não via nenhuma saída. Estive completamente dominado pelo medo". Daí termos um Largo inicial tão densamente carregado, em oposição aos dois Scherzos, sendo que o último assume ares galopantes. É como se Shostakovich, alçado pelo Regime à condição de compositor oficial, fizesse as vezes de Bobo-da-Corte, mostrando a inadequação da real felicidade naquela sombria realidade de opressão e ameaça.

I. Largo
(Bem lento)
Shostakovich nos pinta um cenário assombrado, triste, mas também de grande beleza melódica. Durante o movimento, os sopros são exigidos em solos bem complexos, sobretudo a flauta. Ecos do medo e da angústia do compositor são posto de maneira quase cinematográfica.

II. Allegro
(Rápido)
Há algo de assustado ainda, mas o clima geral é de uma alegre inquietação. Outra vez, os componentes da orquestra são exigidos como solistas, em passagens tecnicamente bastante difíceis. A impressão que fica é a de uma agressividade contida.

III. Presto
(Muito rápido)
Por mais estranho que possa parecer, há algo de Mozart — ou, mais ainda, de Rossini — neste movimento. Uma frivolidade que constrói a alegria artificial, um sentido de urgência, num crescendo que caminha para um finale totalmente orgiástico. 

© RAFAEL FONSECA