(1883) BRUCKNER Sinfonia n. 7

Compositor: Anton Bruckner
Número de catálogo: WAB 107
Data da composição: de 23 de setembro de 1881 a 5 de setembro de 1883; revisada em 1885
Estréia: 30 de dezembro de 1884 — Gewandhaus, Leipzig, Arthur Nikish regendo a Gewandhausorchester

Duração: de 1 hora a 1 hora e 20 minutos
Efetivo: 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 4 trompas, 3 trompetes, 3 trombones, 2 tubas-wagnerianas tenor, 2 tubas-wagnerianas baixo, 1 tuba contra-baixo, tímpano, pratos, triângulo, cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

Das 9 Sinfonias de Bruckner, esta é a mais lírica, de atmosfera mais lúdica, sonhadora. É também a que mais aponta para o futuro, com toques que sugerem um "Art-Noveau musical", principalmente no movimento final (colorido este que posteriormente seria plenamente alcançado por Mahler, um admirador confesso do compositor). 

Ela foi o primeiro sucesso genuíno de Bruckner, e ele se viu muito grato à platéia da estréia em Leipzig, que ficou até o fim da apresentação e o aplaudiu por 15 minutos. Antes, Bruckner estava acostumado a ver as pessoas deixando a sala de concertos aos punhados, a cada intervalo entre movimentos. A Sétima é o ápice da forma, nela ele está seguro como compositor — tanto que o problema de inúmeras versões, cheias de modificações, não existe aqui, a não ser pelo toque dos pratos no segundo movimento, do qual tratarei adiante. Aqui Bruckner conseguiu um equilíbrio estrutural que o aproxima de Haydn e da Sinfonia Clássica. Também soube expor cada tema com clareza e conquistando o ouvinte pela poesia melódica, sendo assim menos hermético que nas Sinfonias anteriores. 

A estrutura, como sempre em Bruckner, é bem tradicional, em 4 movimentos:

I. Allegro moderato 
(Rápido mas moderado) — de 20 a 25 minutos
As cordas estabelecem um tremolo sobre o qual os violoncelos desenharão a primeira frase do movimento, um tema evocativo e arrebatador. A atmosfera é sonhadora e livre. O oboé traz um segundo tema, mais vívido e provocativo. Adepto do sistema do empilhamento das idéias musicais, Bruckner aqui não fará diferente, mas o suceder de repetições não é tão contundente devido à graça e leveza dos temas. Magistralmente, ele constrói suas escaladas, culminando em fortes passagens nas fanfarras, lances cada vez mais altos em busca de um patamar inatingível (que, sabendo-se da vida e dos ideais do compositor, podemos afirmar ser o Sagrado). 

II. Adagio: Sehr feierlich und sehr langsam
(Sem pressa: Muito solene e muito lentamente — de 20 a 30 minutos
O segundo movimento da Sétima de Bruckner é o ápice da Sinfonia, bem como de toda a produção orquestral do compositor. Sua beleza lírica e devota, sua temática comovente, sua construção elaborada que equilibra a obra e mantém o ouvinte atento por quase meia hora de Adagio, são feitos de gênio. Neste movimento, Bruckner usa, pela primeira vez em sua obra, a tuba-wagneriana, um instrumento híbrido (na verdade, espécie de trompa) criado a pedido de Wagner. Aliás, foi durante o esboço desse movimento que o compositor soube da morte de seu venerado colega, e a passagem pode ser ouvida, sem engano, como uma grande homenagem ao autor de "Parsifal", ópera à qual Bruckner atendeu à estréia em Bayreuth em 1882, em pleno processo criativo desta Sétima. A dedicatória da obra iria se destinar a outro fanático por Wagner: o Rei Luís II da Baviera. Na parte final do movimento, como que sofregamente, a música busca por um ápice, pelo consolo. Foi o ponto no qual Bruckner, depois da partitura original manuscrita já pronta, acrescentar um apêndice com um toque de pratos; logo em seguida, no mesmo apêndice, escreveu "Não vale". Mas os regentes acabam por aceitá-lo, pelo efeito certeiro que produz. 

III. Scherzo: Sehr schnell
(Brincadeira: Muito rápido) — cerca de 10 minutos
Movimento ofegante e de grandiosidade explosiva. O chamado de trompete insinua urgência e determinação, enquanto as cordas cavalgam com resolução. A cada repetição, mais energia se acumula. A atmosfera vai se firmando como catastrófica, até, de repente, uma pausa dar espaço ao Trio (trecho central de todo Scherzo ou Minueto, de ritmo contrastante), resgatando o caráter lírico que permeia toda a obra. Repete-se o tema principal do Scherzo com vigor até o clímax definitivo na fanfarra.

IV. Finale: Bewegt, doch nicht schnell
(Final: Movimentado, mas não muito rápido) — cerca de 14 minutos
Na verdade, um Rondò: esquema cíclico que traz de volta, várias vezes, um tema principal, como se esse desse voltas em "rondò" ou "rondeau", redondo. A atmosfera remete o ouvinte também às Passacalhas medievais, "passa calle", andar na rua, dança solene que vai mudando de vista conforme avança; os instrumentos, em conjuntos vão respondendo uns aos outros, desenvolvendo o pensamento musical. É um movimento originalíssimo, onde o recurso de acumular as ideias musicais por repetição — tão caro a Bruckner, como já dito anteriormente — acontece de maneira mais orgânica e natural. O compositor empregou uma orquestração, com uso sofisticado das flautas combinadas aos violinos, que dá um sabor de música inovadora, quase futurista. Certas passagens já fazem entrever o que virá em Mahler. Uma constante escalada ao clímax, que carrega o ouvinte a alturas máximas sem exagerar nos acordes fortíssimos, somente com o efeito cumulativo, administrado com maestria sem igual.

© RAFAEL FONSECA

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