(1895) DVOŘÁK Concerto para violoncelo

Compositor: Antonín Dvořák
Número de catálogo: Opus 104 / B 191
Data da composição: de 8 de novembro de 1894 a 9 de fevereiro de 1895
Estréia: 19 de março de 1896 — Londres, solo de Leo Stern e regência de Dvořák

Duração: cerca de 40 minutos
Efetivo: o violoncelo solista; 1 flauta-piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetas, 2 fagotes, 3 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, tímpanos, triângulo, as cordas (primeiros-violinos, segundos-violinos, violas, violoncelos, contra-baixos)

Dvořák escreve sua última obra para orquestra, este Concerto, em Nova York. Enquanto a chamada "Sinfonia do Novo Mundo", sua Nona, escrita dois anos antes, está prenhe de exaltação à América e esse novo mundo, o Concerto para violoncelo denuncia uma irremediável nostalgia da Bohemia natal.  

O compositor vinha recebendo, até com certa insistência, o pedido do violoncelista Hanuš Wihan que compusesse um Concerto para este instrumento, mas Dvořák achava a sonoridade do violoncelo "anasalada demais nos agudos e murmurante demais nos graves". O ímpeto de escrever a obra veio depois da estréia, no Conservatório Nacional de Nova York, instituição que ele dirigia, do Concerto escrito pelo colega irlandês Victor Herbert. Concluída a empreitada, Wihan recebeu a dedicatória da partitura, mas um problema de agenda o impediu de tocar na estréia da obra, em Londres, e o violoncelista inglês Leo Stern foi o responsável pela primeira apresentação, com o autor na regência.

Wihan sentiu falta das cadenzas e propôs a Dvořák que colocasse uma em cada movimento, mas o compositor recusou a idéia. Além disso, outra diferença sensível em relação à outros Concertos para violoncelo: a presença, na orquestra, de trombones e tuba. Os trombones são, em geral, evitados em Concertos, pois tornam o som da orquestra bem mais pesado; e com o agravante de competir, por tocar no mesmo registro mas com muito mais potência, diretamente com o violoncelo, denunciando a timidez de sua sonoridade. Mesmo com isso, é um dos mais belos Concertos para violoncelo do repertório, e popularíssimo.

São 3 movimentos:

I. Allegro (Rápido) — cerca de 15 minutos
A orquestra apresenta-se a princípio placidamente, para logo encorpar-se num crescendo impositivo, entoando o primeiro tema (inspirado na Quarta de Brahms!); numa passagem mais calma, a trompa apresenta um segundo tema, cheio de candura. Após uns acordes típicos do compositor e logo o violoncelo irá entrar, como que improvisando em cima do primeiro tema. O decorrer do discurso faz  o solista alternar-se entre o brilho do virtuosismo e a intimidade que a sonoridade do violoncelo proporciona. E da orquestra vem as passagens tão eslavas, cheias de colorido e pulsação. . 

II. Adagio, ma non troppo (Calmamente, sem exagero) — cerca de 12 minutos
Durante a composição da obra, em Nova York, Dvořák recebe notícias do estado de saúde de sua cunhada, Josefina Kounicová. Ele havia sido apaixonado por ela na juventude, mas não fora correspondido e acabou casando-se com a irmã mais nova e ela com um Conde, mas as famílias permaneceram sempre muito próximas. É homenageando-a que ele escreve esse movimento, com um doce tema inicialmente insinuado pela clarineta mas logo tomado pelo violoncelo, em atmosfera de oração. Pode-se ouvir o violoncelo chorar as lembranças de juventude. A orquestra corta-lhe o discurso contundentemente, e o violoncelo canta um outro tema, agora reflexivo, saudoso, e jubiloso. É uma das passagens mais expressivas do autor. Dvořák recebe então a notícia da morte de Josefina e acaba inserindo, onde deveria figurar uma cadenza, o tema de sua canção de sua autoria "Deixe-me sozinho", a favorita dela, criando uma prece antes da conclusão do movimento. 

III. Finale: Allegro moderato — Andante — Allegro vivo 
(Final: Moderadamente rápido — Confortavelmente — Rápido e vivo) — cerca de 13 minutos
A orquestra entra com uma marcha que vai crescendo aos poucos, como o som da respiração. A estrututa é a de um Rondò (cíclica, com um tema reaparecendo a cada repetição, sempre ao lado de um novo tema). É o movimento com mais sabor eslavo da partitura. A riqueza dos temas, o colorido orquestral, tudo concorre para um finale apoteótico, como os finales devem ser!  Mas pouco antes da conclusão derradeira, ele relembra calmamente o tema de abertura do primeiro movimento e insere a prece já enxertada em homenagem a Josefina e termina de maneira grandiosa, com a presença dos trombones mostrando sua eficiência, em acordes conclusivos de uma força impressionante. 

© RAFAEL FONSECA

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