(1892) TCHAIKOWSKY Suite "O Quebra-nozes"

Shhelkunchik, Balet-feerija — transliteração de Щелкунчик, Балет-феерия
(O Quebra-nozes, Balé feérico)

Compositor: Piotr Ilyich Tchaikowsky
Catálogo: Opus 71-a / TH 35 / ČW 32
Data da composição: de fevereiro de 1891 a abril de 1892
Estréias: 12 de março de 1892 — Sociedade Musical de São Petersburgo, regência do autor (a Suíte)
Estréias: 18 de dezembro de 1892 — Teatro Mariinsky em São Petersburgo, regência de Riccardo Drigo (o balé completo)

Duração: cerca de 25 minutos (o balé completo dura cerca de 1 hora e trinta minutos)
Efetivo: 2 flautas, 1 flauta-piccolo, 2 oboés, 1 corne-inglês, 2 clarinetas, 1 clarineta-baixo, 2 fagotes, 4 trompas, 2 trompetes, 3 trombones, 1 tuba, tímpanos, pratos, tamborim, triângulo, glockenspiel, celesta, harpa, e as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

A Suite, selecionada pelo próprio Tchaikowsky antes mesmo do balé completo estrear, para um concerto sinfônico sob sua direção, foi a responsável pelo enorme sucesso desta música. São 8 números de adorável musicalidade e invenção melódica, oriundos dessa obra fantástica extraída do universo do escritor E. T. A. Hoffmann — muito embora a inspiração direta de Tchaikowsky tenha sido tomada da versão de Alexander Dumas (pai).

Trata-se de um conta natalino no qual a menina Clara ganha brinquedos caros do padrinho, mas seu pai resolve guardá-los em seu escritório. Para consolá-la, o padrinho a entretem com um quebra-nozes em forma de soldado. Ao forçá-lo, Clara quebra o quebra-nozes e, triste, passa a embalá-lo em seus raços, cantando uma cantiga de ninar. Após todos irem dormir ela volta à Árvore de Natal e percebe que o quebra-nozes emite uma estranha luz. Inicia-se então um evento fantástico, os ratos aparecem, brinquedos tomam vida, biscoitos em forma de bonecos põe-se a marchar. O quebra-nozes toma a forma de um príncipe e a leva a conhecer seu reino encantado. É no Palácio dos Doces que se passa a cena da qual Tchaikowsky extraiu a maior parte dos números que compõe a Suíte.

I. Ouverture miniature: Allegro giusto 
(Abertura-miniatura: Rápido na medida certa) — cerca de 4 minutos
Para estabelecer o clima mágico, Tchaikowsky cria um efeito, como se nos transportasse para dentro de uma caixinha de música, numa instrumentação muito sutil e delicada. É, no caso, a abertura do próprio balé completo. 

II. Danses caractéristiques: (Danças típicas)

1. Marche: Tempo di marcia viva 
(Marcha: Tempo de marcha viva) — cerca de 2 minutos
Aqui entra a Marcha que segue à montagem da Árvore de Natal, logo no início do Primeiro Ato, quando as crianças se divertem brincando de soldados. Um interessante uso dos metais, revelando o hábil e sofisticado instrumentador que o compositor fora em sua última fase. Os demais números utilizados são todos da cena do Palácio dos Doces no início do Segundo Ato.

2. Danse de la Fée-Dragée: Andante ma non troppo 
(Dança da Fada açucarada: Com calma mas não tanto) — cerca de 2 minutos
A atraente e delicada dança na qual aparece o som da celesta e do glockenspiel para evocar a fada de açúcar nesse .reino de doces e brinquedos Este é o único trecho alterado pelo compositor, finalizando ligeiramente diferente da versão apresentada no balé completo.

3. Danse russe: Tempo di Trepak, molto vivace 
(Dança russa: Tempo de dança folclórica ucraniana, muito vivaz) — cerca de 1 minuto
Tchaikowsky em seu momento mais característico e empolgante, exalando a alma russa como só ele sabia traduzir. 

4. Danse arabe: Allegretto 
(Dança árabe: Sem arrastar) — cerca de 3 minutos
Um trecho muito evocativo, no balé completo utilizado para apresentar o café. Talvez o trecho mais denso da Suíte, apesar de seu inequívoco glacê.

5. Danse chinoise: Allegro moderato 
(Dança chinesa: Rápido moderado) — cerca de 1 minuto
No balé, a dança de apresentação do chá, também muito evocativa e original, trazendo à cena a atmosfera das porcelanas chinesas em seus delicados e detalhados ornamentos.

6. Danse des mirlitons: Moderato assai 
(Dança das flautas de brinquedo: Bem moderado) — cerca de 3 minutos
Um trio de flautas domina o trecho, criando um efeito surpreendente e muito sedutor, certamente a passagem mais brilhante e inventiva de toda a Suíte. 

III. Valse des fleurs: Tempo di Valse 
(Valsa das Flores: Tempo de valsa) — cerca de 7 minutos
A valsa que finaliza a Suíte é, no balé completo, o ante-penúltimo trecho, antes do Pas-de-deux e da Valsa-apoteose final. E permanece como o trecho mais popular, muitas vezes apresentada isolada, descolada tanto da Suíte como da obra completa. Um testemunho do gênio absoluto de um compositor que foi um dos maiores inventores de melodia em toda a história. 

A leveza e doçura da música combinada a uma profundidade emocional que lhe confere densidade e qualidade numa obra que poderia soar apenas ligeira e despretensiosa se explica ao contraste pelo qual o compositor passava naquele momento: se por um lado vivia a glória e o triunfo obtido por sua música no concerto inaugural do Carnegie Hall de Nova York em 1891, por outro ele via-se deprimido com o rompimento abrupto de sua patronesse Madame Von Meck, que retirava não só o suporte financeiro — de que certamente ele nem precisava mais — mas o indispensável apoio emocional nesta estranha relação vivida por cartas e nenhum encontro de presença física em 15 anos de intensa troca de experiências, testemunhos, opiniões artísticas e pessoais.

A Suíte serviu de inspiração para inúmeras adaptações, re-orquestrações e arranjos. O mais famoso produto dessa admiração foi proposto por Duke Ellington em 1960 em seu álbum "The Nutcracker Suite" no qual ele explora as geniais melodias do compositor russo numa releitura jazzística de grande efeito.

© RAFAEL FONSECA


A versão jazzística de Duke Ellington:


O balé completo:



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