(1935) BERG Concerto para violino "Em memória de um anjo"

Violinkonzert "Dem Andenken eines Engels"

Compositor: Alban Berg
Data da composição: de abril a 11 de agosto de 1935
Estréia: 19 de abril de 1936 — Barcelona, no Palau de la Música Catalana, Louis Krasner (violino) e Hermann Scherchen (regência)

Duração: cerca de 30 minutos
Efetivo: violino solista;
Efetivo: 1 flauta-piccolo, 2 flautas, 2 oboés, 1 corne-inglês, 3 clarinetas, 1 clarineta-baixo, 1 saxofone-contralto, 2 fagotes, 1 contra-fagote, 4 trompas, 2 trompete, 2 trombones, 1 tuba-contra-baixo, tímpano, bumbo, pratos, caixa-clara, gongo chinês, gongo, triângulo, harpa e as cordas (primeiros- e segundos-violinos, violas, violoncelos e contra-baixos)

No início de 1935 Berg recebe do violinista Louis Krasner a encomenda de um Concerto para estrear no Festival de Música Contemporânea que aconteceria no ano seguinte em Barcelona. Envolvido com a produção de sua ópera "Lulu", Berg titubeou em aceitar a encomenda. Mas a morte prematura de Manon Gropius, filha de sua dileta amiga Alma Mahler e do arquiteto Walter Gropius, mobilizou o compositor a homenagear a jovem que se despedira da vida aos 18 anos, vítima de paralisia-infantil.

A obra, que deveria ser o Réquiem para Manon, acaba por ter sido o Réquiem para o próprio Berg, que morreu em 24 de dezembro de 1935 com 50 anos, deixando sua "Lulu" incompleta. De fato, sua obra derradeira acabou por ser este Concerto para violino, que ele não viveu o suficiente para vê-lo apresentado por Krasner (o autor da encomenda) em Barcelona em 1936.

A estrutura da composição é bipartida mas uma subdivisão que lhe confere 4 movimentos em duas partes:

I. Andante – Allegretto
(Passo de caminhada — Sem arrastar) — cerca de 12 minutos
A primeira parte, o Andante, é um Prelúdio melancólico, no qual o violino entra titubeante, como quem procura se encaixar o espaço, enquanto a orquestra constrói o cenário desse céu do qual a personagem — se admitimos que o violino é o anjo, é Manon — observa o mundo recém-abandonado. É nesta obra, pela primeira vez, que Berg utiliza-se do dodecafonismo de Schönberg, e tal sistema ajuda no impacto da reflexão de um tema tão duro, a morte na juventude.

A segunda parte, o Allegretto, é quase um Scherzo mahleriano, abrindo-nos o abismo da morte, trazendo a força da catástrofe, com uma pequena seção contrastante que faz uso de uma canção infantil (inspiração que remete diretamente a Mahler), terminando em angústia destroçada.

II. Allegro, ma sempre rubato, frei wie eine Kadenz – Adagio
(Rápido, mas sempre roubando tempo, livre como uma cadenza — Com calma) — cerca de 18 minutos
O Segundo movimento abre com um Allegro que provoca choque, talvez aqui a morte vista pelas dores dos que ficam. A parte final, um Adagio, faz citação direta do tema principal da Cantata n. 60 de Bach, que em seu original teria um coral cantando "Ó eternidade, palavra retumbante / Ó espada que atravessa a alma  / Ó princípio sem fim  / Ó eternidade, tempo sem tempo. / De tanta tristeza, / Não sei a quem recorrer. / Meu coração assustado treme tanto / Que minha língua se cola ao céu da boca". No final, a orquestra constrói um acorde dentro da tonalidade (que a obra toda nega com seu dodecafonismo) enquanto o som do violino, numa busca de uma nota super aguda, dissolve em direção ao céu...

© RAFAEL FONSECA


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Por favor, ao postar seu comentário, não deixe de incliur seu endereço eletrônico, para que possamos manter contato! (R. F.)