(1730) BACH Concertos para cravo

Concertos n. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7

Compositor: Johann Sebastian Bach
Número de catálogo: BWV 1052 a 1058
Data da composição: entre 1729 e 1741
Estréia: datas imprecisas, a maioria tendo Bach ao cravo, no Kaffee-Haus Zimmermann em Leipzig

Duração: entre 15 e 20 minutos cada Concerto
Efetivo: o cravo solista e as cordas (primeiros-violinos, segundos violinos, violas e violoncelos)

O período inicial do Barroco viu florescer, pelas mãos dos italianos — como Corelli e Geminiani — o chamado Concerto Grosso (literalmente, Concerto Grande), no qual prevalece a idéia de "concertar", de promover o diálogo entre instrumentos. Mais adiante, num segundo momento do Barroco, compositores como Vivaldi passam a entregar a um dos solistas do conjunto uma participação mais destacada, colocando a linguagem de concerto no caminho do protagonismo absoluto que se dará aos solistas nos Concertos do Romantismo no século XIX, 150 anos depois.

Os Concertos de Bach colocam-se a meio caminho desta trajetória: já se dava destaque a um único solista, mas ele ainda está, de certa forma, inserido na orquestra. Toca junto com todos nos tutti e dali se sobressai em frases que promoverão o diálogo entre as forças — solista e orquestra — na linguagem concertante.

Está claro que Bach se viu extremamente influenciado pela musicalidade contagiante de seus colegas italianos, haja visto as cópias e adaptações que fez das partituras de Vivaldi e Marcello. Mas sua densidade protestante influi nas obras, criando uma orquestração mais consistente, ainda que buscando a alegria italiana no resultado final.

Na estrutura, são todos muito parecidos, com 3 movimentos no tradicional esquema vivo—lento—vivo. Em geral, no segundo movimento, o cravo se coloca liricamente, enquanto o conjunto das cordas se comporta discretamente, podendo acompanhá-lo apenas com o pizzicato.

Não se sabe a data exata da composição de cada um dos Concertos, mas são todos concebidos por volta da década de 1730, todos utilizando material anterior, re-aproveitando antigos Concertos dele para violino ou oboé, por exemplo, mas sem que isso implique na automática substituição do instrumento solista: Bach realmente re-elaborava toda a partitura. Em especial esses Concertos para cravo — que, modernamente, é comum que se apresente ao piano — nasceram da necessidade de peças para tocar com o Collegium Musicum de Leipzig, um conjunto formado em 1703 por Telemann e com o qual Bach dirigia uma série de apresentações no elegante Zimmermannisches Caffe-Hauß, loja-bar do Sr. Gottfried Zimmermann, à época um sucesso estrondoso vendendo a bebida estimulante.

Concerto n. 1
Número de catálogo: BWV 1052
Duração: cerca de 20 minutos

I. Allegro — II. Adagio — III. Allegro (Rápido — Sem pressa — Rápido)
Foi o mais popular do conjunto, durante o século, desde que Mendelssohn promoveu a descoberta das obras de Bach a partir de 1840; ele mesmo o tocava com freqüência, e Brahms chegou a escrever uma cadência para ele. A origem seria um Concerto para violino, cuja partitura se perdeu. As mesmas melodias seriam re-aproveitadas por Bach em 2 Cantatas, numa delas como Abertura, transcrevendo a parte do cravo para o órgão.

Concerto n. 2
Número de catálogo: BWV 1053
Duração: cerca de 19 minutos

I. Allegro — II. Sciliano — III. Allegro (Rápido — À maneira siciliana — Rápido)
De caráter bem italiano, desde a melodia de abertura, o com um segundo movimento à siciliana quase triste e um finale bem alegre. A origem seria um Concerto para oboé d'amore (um oboé afinado para soar mais doce, típico do Barroco), cuja partitura também se perdeu. Como no caso do anterior, as mesmas melodias seriam re-aproveitadas por Bach em 2 Cantatas.

Concerto n. 3
Número de catálogo: BWV 1054
Duração: cerca de 17 minutos

I. Allegro — II. Adagio e piano sempre — III. Allegro
(Rápido — Sem pressa e sempre baixo — Rápido)
É a versão para cravo do conhecido Concerto para violino n. 2 dele, escrito por volta de 1729. Tem uma atmosfera mais densa, com um início pomposo e marcado, e um segundo movimento de melancólico lirismo; já o finale é mais italianizado.

Concerto n. 4
Número de catálogo: BWV 1055
Duração: cerca de 14 minutos

I. Allegro — II. Larghetto — III. Allegro ma non tanto
(Rápido — Sem arrastar — Rápido mas não tanto)
Um dos mais luminosos do conjunto, que já na introdução evoca júbilo e confiança. O segundo movimento é de beleza contida, e o terceiro retorna ao clima inicial, e a inventividade do diálogo é surpreendente. Sua origem está num Concerto para oboé d'amore, cuja partitura se perdeu, mas que os estudiosos reconstruíram e a suposta versão original é apresentada com freqüência pelos oboístas.

Concerto n. 5
Número de catálogo: BWV 1056
Duração: cerca de 10 minutos

I. Allegro moderato — II. Largo — III. Presto
(Moderadamente rápido — Lento — Muito rápido)
É o mais belo dos Concertos de Bach. Ele usou um antigo Concerto para violino — hoje perdido — para os movimentos rápidos, e o movimento central é de um Concerto para oboé (também perdido), de beleza muito tocante. No século XIX e início do XX, essa melodia cativante do Largo, que Bach re-utilizou em sua Cantata n. 156, foi abusivamente adaptada em versões várias.

Concerto n. 6
Número de catálogo: BWV 1057
Duração: cerca de 17 minutos
Efetivo: além do cravo solista e das cordas, duas flautas barrocas

I. Allegro — II. Andante — III. Allegro assai (Rápido — Em passo de caminhada — Bem rápido)
Sem disfarces, este é o Concerto de Brandemburgo n. 4, com a parte do violino solista re-trabalhada para o cravo.

Concerto n. 7
Número de catálogo: BWV 1058
Duração: cerca de 14 minutos

I. Allegro — II. Andante — III. Allegro assai (Rápido — Em passo de caminhada — Bem rápido)
Adaptação do Concerto para violino n. 1, escrito por volta de 1720. Francamente, é o mais italiano do conjunto, apesar da densidade quase triste do segundo movimento.  

© RAFAEL FONSECA