(1849) SCHUMANN "Cenas da Floresta"

Waldszenen (Cenas da Floresta)

Compositor: Robert Schumann
Número de catálogo: Opus 82
Data da composição: 1848 a 1849
Estréia: [provavelmente em audição privada, no ambiente doméstico]

Duração: de 20 a 23 minutos
Efetivo: piano

Escrita numa das épocas mais prolíficas da criação do compositor, as Cenas da Floresta são de rara delicadeza e descrevem as sensações de um passeio pela floresta germânica, assim como já havia feito antes Beethoven, inspirado pelos bosques ao redor de Viena, na criação de sua Sinfonia "Pastoral".

Esbanjando delicadeza, Schumann propõe o passeio em 9 miniaturas:

I. Eintritt: Nicht zu schnell
(Entrada, ou introdução: Não muito rápido)
É a chegada à Floresta e a entrada em seu mundo mágico — lembrando que antes do Romantsimo a floresta representava os perigos e a falta de civilidade a ser afastada, e essa geração é a primeira a olhar a Natureza com certo agrado e fascínio — numa atmosfera de descoberta e alegre inquietude.
   
II. Jäger auf der Lauer: Höchst lebhaft
(O Caçador em emboscada: Com mais vivacidade)
Num mimetismo gracioso, o clima da caçada, da fuga da presa e da emboscada pertinentes à caça.

III. Einsame Blumen: Einfach
(Flores solitárias: Com simplicidade)
As flores. Um momento de pura poesia e delicadeza, que Schumann sabia explorar como poucos.
   
IV. Verrufene Stelle: Ziemlich langsam
(Lugar assombrado: Bastante lento)
Mudando drasticamente de humor, num forte contraste com relação ao movimento anterior, Schumann nos coloca neste "lugar assombrado", construindo um clima de subjetividade onde o temor e a apreensão nos são sugeridos com muita sutileza, sem apelar para efeitos mais óbvios.
 
V. Freundliche Landschaft: Schnell
(Paisagem amigável: Rapidamente)
Outra contrastante mudança de atmosfera, agora para este "Lugar amigável", com uma música apaziguadora e evocativa.
   
VI. Herberge: Mässig
(Albergue: Moderadamente)
Como já citado, a Floresta do homem Romântico não seria inteiramente natural, no sentido de tratar — como o fazemos hoje — de um ambiente "puro", sem intervenção humana. Então, aqui está o Albergue, a Pousada onde se descansa durante a travessia.
 
VII. Vogel als Prophet: Langsam, sehr zart
(O Pássaro como profeta: Lentamente e muito delicado)
Um dos momentos mais geniais da obra. Numa passagem quase mágica, o retrato de um mítico pássaro que advinha o futuro.

VIII. Jagdlied: Rasch, kräftig
(Canção de caça: Rápido e vigoroso)
O chamado das trompas de caça e a vertiginosa perseguição à presa. O momento mais alegre e festivo de todo o ciclo.

IX. Abschied: Nicht schnell
(Despedida: Não muito rápido)
A atmosfera contemplativa e serena da despedida, o tom agradecido da experiência vivida. Uma melodia tipicamente schumanniana, dosadamente romântica, poética e evocativa.

A estrutura dramática mostra-se simétrica: a Entrada antepõe-se à Despedida; a Emboscada à Canção de caça (interferência do homem na Floresta); as Flores ao Pássaro-profeta (elementos da Natureza); o Lugar assombrado em oposição ao Albergue (como lugares que provocam sentimentos antagônicos); e a peça central fica sendo a Paisagem amigável como síntese das impressões da Floresta.

© RAFAEL FONSECA